
Nota de pesar pelo falecimento de Chico de Oliveira
Um dos mais influentes sociólogos brasileiros, Francisco Maria Cavalcanti de Oliveira, mais conhecido como Chico de Oliveira, formou gerações de cientistas sociais e formulou uma das mais originais vias de interpretação sobre a sociedade brasileira surgidas nas últimas décadas.
Reelaborando crítica e criativamente formulações até então clássicas sobre a modernização e o subdesenvolvimento elaboradas pela Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL) e por um de seus mestres, Celso Furtado, Chico de Oliveira foi responsável, nos anos de 1970, por transformar o debate, elevando-o a um novo patamar teórico e político. No clássico Crítica à razão dualista de 1973, evidenciou que, se a produção da dependência passava pela conjunção entre um lugar na divisão internacional do trabalho capitalista e a articulação dos interesses internos, o subdesenvolvimento não seria uma singularidade, mas a forma da exceção permanente do sistema capitalista na periferia.
Investigando as consequências econômicas, sociais e políticas desta exceção, foi novamente capaz de atualizar sua tese, já para o Brasil do século XXI, quando no interior das reflexões formuladas no Cenedic/USP lançou algumas das mais provocadoras questões, sociológicas e políticas, ao ciclo de desenvolvimento econômico que marcou as últimas décadas do país. Se, como argumentou Chico, a dinâmica é menos incompatível com a estática do que parece, permanece renovado o desafio de, criticamente, compreender a dinâmica brasileira e nela atuar.
Em meados dos anos de 1980, Chico de Oliveira quase se juntou ao Departamento de Sociologia da Unicamp. Se o vínculo formal não se estabeleceu, a parceria intelectual com colegas como Octávio Ianni, Ricardo Antunes e, recentemente, Fábio Querido sempre se fez presente e é também parte de nosso fazer como cientistas sociais.
A ausência de Chico de Oliveira no debate público vai ser muito sentida, principalmente nesse momento em que a sua obra se mostra tão reveladora da sociedade brasileira. Manifestamos nosso profundo pesar.
Direção do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Estadual de Campinas