Despedida de Adriana Dias
Obituário Adriana Abreu Magalhães Dias
O Programa de Pós-graduação em Antropologia Social da Unicamp se despede de Adriana Dias,pesquisadora aqui formada, que produziu trabalhos de referência tanto sobre o neonazismo noBrasil quanto sobre deficiência e acessibilidade. Incansável e extremamente corajosa, terá seulegado por nós sempre rememorado.O texto abaixo é de autoria de Suely Kofes, professora do PPGAS, orientadora e amiga de Adriana.
Obituário Adriana Abreu Magalhães DiasSe um obituário é uma escrita biográfica, melhor seria não começar pelas datas, asconvecionais do nascimento e morte. Uma vida continua nos vestigios que permanecementre os vivos.Pelo nome, começemos pelo nome, Adriana.Adriana Abreu Magalhães Dias formou-se como antropologa na Unicamp. Concluiu asua graduação em Ciências Sociais com a defesa de uma monografia baseada em umapesquisa pioneira, no tema e na “área etnografica”: Os Anacronautas do teutonismo virtual:uma etnografia do neonazismo na internet (2005). Com um considerável conhecimente dadeep web observou postagens não reconheciveis ao leigo, as publicações dos neo-nazistas ,e continuou assim a sua pesquisa para o mestrado (PPGAS, Unicamp) concluído com adissertação intitulada Os Anacronautas do teutonismo virtual: uma etnografia do neonazismona internet (2007). Finalmente, em 2018, defendeu a sua tese de doutorado: Observando oódio:entre uma etnografia do neonazismo e a biografia de david laneAs suas pesquisas academicas, monografia, dissertação e tese, são imprescindíveispara estudo das concepções e ações neonazistase e sobre pesquisas antropológicas naInternet.Quem faz antropologia neste campo de estudos no Brasil precisa necessariamentereconhecer seu pioneirismo e a importância de suas pesquisas.Adriana é uma ativista, radicalizou os supostos de uma antropologia pública. Pelo sseus artigos, pelos debates e acões juridicas contra neo-nazistas. Pela coordenação doComitê “Deficiencia e Acessibilidade” da ABA, organizou também na ABA o I SeminárioNacional de Políticas Públicas para Mulheres com Deficiência ) pela criação e realizações degts relativos aos estudos sobre as pessoas com defieciencia. Na elaboração do projeto de leipara o Dia Nacional das Doenças Raras.Ao criar o Instituto Baresi, um fórum nacional associando “ pessoas com doençasraras, deficiências e outros grupos de minoria” enfatizava a sua luta contra desigualdades epela justiça.Não foi possivel ainda deixar-me envolver pela evocação dos nossos momentoscomuns.. Pela dor, mas também pela centenas de testemunhos da vida e do trabalho e dasações políticas de Adriana que leio desde o dia vinte e oito de janeiro de 2023, quando foianunciado o seu falecimento. Um mes depois de seu aniverário. Adriana não apenaspesquisou sobre e agiu contra as redes de neonazistas. Criou um meshwork de afetos, tecidopelas suas lutas e pela sua generosidade. Onde quer que estivesse, no IFCH, Unicamp, emoutras universidades, em reuniões cientificas, em lugares aos quais era convidada a debates,no cotidiano, reivindicava condições de acesso aos portadores de deficiencias, inclusive parasi mesma. Como li em algumas mensagens sobre ela, Adriana foi pioneira também nasreivindicações de acessibilidade nos ambienttes academicos e com uma qualidade própria, ade insitir nos problemas.Sensível esta relação entre os seus temas de pesquisa em antropologia, os de seusativismos e entre estes e a sua vida, breve.Uma antropologa, uma ativista. Acompanhei as suas pesquisas desde a monografiade graduação até o seu doutorado. Nos separavamos no ativismo e nos aproximavamosintensamente nas leituras em antropologia, nas conversas sobre as suas pesquisas, e por umintenso afeto.Quando Adriana concluiu o seu doutorado, tornei-me uma mensageira queendereçava a ela os tantos emails de jornalistas e movimentos por direitos humanosprocurando-me para obter o seu enderelo de e-mail.Pode-se dizer da vida de Adriana Abreu Magalhães Dias, que ela se fezdistribuindo o bem e na procura da justiça. Que este seja o seu legado permanente,Até sempre e obrigada, Adriana.